terça-feira, 12 de março de 2024


a estranha mania
de não fazer pergunta
acaba transformando a vida
em uma grande dúvida.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

 em todo lugar

onde há dono

há também

abandono.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

tantas luzes acesas fazem esquecer 

que estamos todos no escuro.

tanta gente passando 

faz esquecer 

que estamos todos sós,

e tanta banalidade  

faz esquecer

que estamos perdidos.

rio e assumo 

que é reconfortante,

torcendo para que o teatro continue.


nesta cidade infinita 

pessoas podem ser medidas 

pelo tamanho da solidão

não assumida.

quarta-feira, 12 de julho de 2023


o nosso amor

estava escrito nas estrelas,

mas estrelas são imaturas

e não sabem o que escrevem.

ademais, você não sabe ler,

ou não quer.


o nosso amor 

estava escrito nas estrelas,

você olhou para elas 

e disse: “apaguem isso”.


o nosso amor 

estava escrito nas estrelas,

mas elas não sabem escrever,

você não sabe ler

e eu não sei do que gosto.


as coisas mais bonitas acabam

sem despedida,

despedidas são para coisas comuns.

as coisas mais bonitas acabam

quando a gente quer que durem

e todos os cuidados são poucos

para impedir que se vão.

as coisas bonitas simplesmente 

se vão. 

isso as torna ainda mais bonitas

pois além de tudo

são infinitas. 

segunda-feira, 17 de abril de 2023

tenho dois medos na vida.

o primeiro, de ser incoerente.

o segundo, de ser coerente.

quarta-feira, 22 de março de 2023

 

sonhei que você 

me tirava os anéis, um a um, 

dos dedos.

“nossa, quantos eu tenho!”, pensei.

quando chegava no último, por baixo de todos os outros,

você perguntava:

“este fui eu que dei?”

e eu não sabia dizer, 

então aquele ficava. 


aquele, que já fazia parte do corpo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

talvez o cheiro 

de sabão em pó com bebida

talvez os risos,

a vista.

sair no teto solar

escalar a churrasqueira até a laje

e qualquer outro respiro

de liberdade.

ah, éramos tão presos!

nada decidíamos sobre a vida

e ainda assim

ela era linda.

tantos livros, tantas músicas,

tantas paixões repentinas.

era tudo novo, tudo surpresa.

e do nada, como quem vai dormir

depois de um porre,

todos sumiram

- como estava previsto.

os 16 anos, que pareciam tão inocentes,

viraram 16 anos

de uma doce ressaca

(e que bom, 

poderiam não ter deixado nada).

terça-feira, 15 de março de 2022


o Rio é rio 

que corre ao contrário

o que mando embora,

ele traz de volta.

o Rio é a vida

do fim ao começo

e sempre que peço:

"pára, Rio. me deixa respirar",

ele brinca e acelera.

rio não espera:

ele ri,

me desespera.

não é feito pra esperar.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

você 

e esse seu receio

tão preocupado em amarrar as pontas

esqueceu-se de amarrar

o meio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

o escritório
está detonado
como tudo 
que existe após acabar.
a culpa não é dele, 
objeto inanimado, 
ou do tempo, 
feito para passar.
a culpa é nossa,
que olhamos para aquilo
que não deveria estar lá.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

o rio

tem cheiro de mar

vejo ao longe 

o posto onze

- preferia 

não chegar.


os pensamentos vão e vêm

em segundos,

inseguros.

penso no amor

como forma de revolta:

você me ofende,

eu amo de volta. 


o mundo precisa de poesia

de brisa

de maresia

precisa demais

de mais fantasia.


você me lembra saudade

saudade que nunca

aprendi a engolir.

talvez minha garganta seja pequena

- ou eu mesma seja, vai saber.


passar na floricultura

é meu maior desespero:

das flores juntas, o cheiro

lembra casamento,

lembra enterro.

domingo, 18 de julho de 2021


desfazer cada ilusão
não como quem puxa um fio,
mas como quem precisa puxar 
fio por fio
de um tecido infinito.
desfazer cada mito.
desfazer aquilo
que a gente fez por instinto
e sem explicação,
até ter na mão 
não um monte de fio, 
mas um grande vazio.
esbanjar o vazio
iluminar o vazio
e cuidar do vazio.
depois, 
sem tecido e sem lã,
sentir frio.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

 a mão,

além do rosto,

é o que fica descoberto

neste frio louco.

já decorei cada linha.


desmanchar

a mancha,

retocar

o toque,

desatar

a tara.


você me olha no rosto

com um ar de leveza 

e acende a lareira.

o que mesmo viemos 

fazer nesta cidade?

- pensamos sem assumir.


a gente não sabe mais o que inventar,

e os personagens imaginários já são tantos

que nem mais nomes eles têm.

daqui a pouco serei um deles,

você será também.


só queria a paulista aberta -

penso, e apago a luz.

a mão solta o livro,

a linha some.

durmo como se já fosse ontem.


hoje, sozinha no escuro,

eu sou meu próprio

futuro.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

magoar

a quem te ama

para amar

quem te magoa.

poesia imunda

             se afunda

                    na lagoa.


                        faz bolha.

sexta-feira, 12 de março de 2021

a última brincadeira no play,

esquecimento do primeiro amor,

último dia de escola,

último filme dublado,

última noite de sono

com horário marcado.


último material escolar,

último dia sem café,

último prato de miojo,

último corte no joelho,

última farpa no pé.


a vida passa 

a cada fim.

o tempo 

é o abismo prateado -

a gente se joga

e quando vê,

sai do outro lado.

depois brinca como se ele

nunca tivesse passado.

e esse é o presente.

hoje chorei sozinha

chorei à toa

esqueci que você vinha

e que o tempo voa.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

 

tristeza,
culpa,
silêncio
como fontes
de conhecimento.

se perder em dúvidas pequenas,
se encontrar em grandes.
a gente se confunde tanto
que volta em tudo aquilo
que não era dúvida antes.

não é porque está bem 
que está certo,
não é porque está mal 
que está errado.
pensamos tanto no futuro
que quando chega o futuro,
precisamos resolver
o passado.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

 a água macia

me faz cosquinha 

como você fazia.

penso que está triste,

fico triste.

se não estiver triste,

ficaria triste se soubesse 

que estou triste

por você estar triste?


quando não tem graça,

cachaça.

quando não tem pena,

poema.

me perco nas ruas 

que eram tão grandes

quando vim pequena.


amanhã volto,

banco quente

garrafas de água,

músicas da semana.

amanhã 

vamos ver

se a gente se encontra

sem querer.


às 17h no mercado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

- converso contigo o tempo todo na minha cabeça.

- sobre o quê?

- sobre tudo.

- o que eu respondo?

- você não responde, você só pergunta.

domingo, 25 de outubro de 2020

vivi

para te fazer feliz

(e não fiz)


sábado, 17 de outubro de 2020

(continuação do dia 13 de junho de 2012) 

você volta, traz torta. 
comemos como se tivéssemos sido 
formigas em outras vidas. 
comemos como lombrigas.
e rimos com o olho, a boca e a barriga.
rimos porque enlouquecemos.
e eu, que antes disse:
"se voltar amanhã, não deixo entrar", 
agora sou sua amiga. 
com torta, sem briga.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

 

há dias em que
tudo
se desfaz em pedaços
de nada
e enquanto a insônia
rouba a madrugada,
podemos sentir
saudades
do tempo em que o futuro
ainda estava distante.

ah, como nos achávamos
gigantes.

domingo, 20 de setembro de 2020

tão errado que é certo.

vida que dá laços,

não percebo

e aperto.

viram nós.

viramos nós.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

te manipular.

entrar no seu sonho,

te ver chorar 

e te abraçar.

pequeno pedaço 

de doce de ontem,

ainda mais doce hoje -

amargo amanhã?

te pego e te aperto,

contorço,

beijo seu pescoço.


veneno da alma 

o tempo te estraga.

enquanto não durmo,

percorro seus sonhos 

que agora são meus. 


vou te levar embora,

calçar seus sapatos 

e te misturar no leite.

quem sabe não dissolve 

antes de amanhecer 

como se nunca 

tivesse existido?

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

maria 


eu te cha-
maria
te ani-
maria
te arru-
maria
te engo-
maria
te acla-
maria
te decla-
maria
te acal-
maria.

maria,
você me a-
maria?


eu a-
maria
te amar.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

chá verde
para digerir,
chá preto
para acordar.
chá comigo,
chá contigo.
me chateia preparar
o chá que ninguém vai tomar.
chá pra lá.
te chamo para um chá:
chá amarelo
para relaxar.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ela chegou em silêncio
e em silêncio permaneceu
até tomar coragem:
"e aí, como está?"
"por enquanto só dói".
e só doía
porque ainda não tinha se desfeito
naqueles pedaços mínimos
que ninguém poderia catar.
-por enquanto só dói -
repetiu para si mesma.
repetiu porque sabia
que muito em breve
ninguém mais perguntaria.
e sorriu engolindo
o nó na garganta.
daqui a pouco nem dor.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ela é foda
eu sou nada

juntas,
somos fada.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

hoje vou deitar
e pensar em você,
como um dia você
já pensou em mim.

hoje vou deitar
e pensar:
"como um dia você
já pensou em mim?"

hoje vou deitar
e pensar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

a janela aberta
faz parecer verão
não entendo bem por que
mas lembra os verões da infância
quando você não existia ainda
- ao menos para mim.

bolo de morango
pela metade na mesa.
uma pena.
poderíamos ter comido tudo
e agora estaríamos rindo
com a barriga cheia
e olhos cansados
como se dissessem
- fizemos besteira.

viajo em pedaços de coisas
jogadas
e formigas que passam
apressadas
- provavelmente indo comer
o bolo.

você é engraçado. se irrita e sai,
sem dizer nada.
me deixa perdida.

se voltar amanhã,
eu não deixo entrar.
as formigas terão comido o bolo todo.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

eu
sou
você
amanhã
- e rio
por saber
que você
não terá
amanhã

quarta-feira, 23 de março de 2011

danada
que pede tudo


pé de tudo
dá nada

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Caderno de NADA

ser tão
ser pente

ser assim
ser afim

per fume
per feito
pra mim.

sábado, 27 de novembro de 2010

Caderno de FEB

move
como eu
movo
me trans
forma
de re
pente
move
então
de novo
me co
move
por ser
novo
como a
gente.

domingo, 7 de novembro de 2010

"tenho medo
de te intoxicar"
disse ela guardando no bolso
o pote que nunca tinha tido
nada
além de ar
ele ria,
apenas por saber
que ela mentia
como quem não sente
nada
e por isso esconde.
ria para fingir
que gostava dela
e que via nela
toda a alegria
da farsa humana
de atuar.
ria também
por sentir nada
- e muito mais vazio
do que o nada
que ela sentia.
ria sem a boca
sem mexer os olhos
sem demonstrar
ria, e repetia:
"eu também
nasci palhaço".
tudo que há
de mais lindo
quase nunca
faz sentido.

eu te escrevia poemas
em papel de paçoca
guardava no bolso da calça,
colocava pra lavar

com olhos espertos
te desenhava no teto
e passava horas
retocando os detalhes

nunca gostei de paçoca,
nunca soube desenhar
mas sufoca pensar
que o que passou não volta

nunca mais ficaremos
bêbados com coca-cola.

domingo, 31 de outubro de 2010

ao entardecer
passo cada
segundo
te olhando
pouco,
te amando
muito.

palavras soltas
e, em, um
infinito
de
com
posto
passo a entender
cada vírgula
em seu rosto.

domingo, 19 de setembro de 2010

vou apagar
da memória
mil sonhos
coloridos
isso
e aquilo outro.
negociar
com o padeiro,
mandar assar
sua história
em fôrmas
de biscoito.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

aqui tem cheiro
de mar
porém
ninguém percebe
porque não quer
se afogar.

a atendente me serve
mais um pouco de chá
e tomo, mas penso
"só pode ser mais uma
parte do veneno".

penso
e não entendo,
mas percebo
de repente:

a atentente
tem dente
de ouro.
meu dente,
é
de
leite.
vento no vidro,
pijama ao avesso.
o cobertor já não serve
para embalar sonhos bons
quente, escuro quarto
ou quinto pesadelo
o travesseiro morre
de medo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

tentando desaparecer daqui
parecer daqui
ser daqui
daqui
aqui
ui

tentando,
só tentando.
pois é, poeta
eu também te amei um pouco
mas do pouco
o que não resta
mora no corpo
do morto
poeta
que eu amei como uma cega
uma boba que não nega
que essa vida nos carrega
pr´onde nunca
queremos chegar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

amor
tem sorte
de amar
a morte.

amor
tem sido
amor-
tecido
por versos
sem cor
e poesias
sem corte.

domingo, 18 de julho de 2010

Segunda-feira, a solidão

a roupa listrada
amassava
junto ao vidro
e eu deixava de lado
o longo caminho
da triste estrada
que morria comigo.
aos poucos
cada célula
ou qualquer coisa
intangível
se dissolvia
e era longe
para que eu pudesse
recuperar.
meus versos longos
de tantos anos
de madrugada
noite virada
todo cansaço
voavam longe
pra outro lugar .

então que vi
com tristes olhos
me olhando torto
a solidão.
o rosto amigo
a voz serena
morreram juntos
sem dar motivo.

tudo
porque já
não era domingo.

domingo, 20 de junho de 2010

Mentiras que a gente conta

na ponta dos dedos
o carinho
da sua mão pesada
que corre por cada cantinho
buscando o caminho
que vai dar no nada.

hoje você me inventou
poesia de uma só palavra
o frio que corta
não importa
pois só vou durar
até o fim da madrugada.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

esses todos
que agora passam
não estão no meu plano,
não vivem hoje

aquela senhora
morreu há pouco
era avó do dono
do botequim
e esse menino,
morreu tão jovem
e agora passa
sorindo pra mim

os mortos passeiam
e são tão divertidos
que quase esqueço
que estou apenas brincando
de me inventar
um sexto sentido.

domingo, 30 de maio de 2010

mais uma hora em vão
caminho escuro, lado errado

o domingo é um dia morto
e eu,
o domingo personificado.

sábado, 15 de maio de 2010

o que me deixa mais triste
na vida é sempre pensar
que futuro não existe
(nem nunca existirá).

o futuro é o velho sonho
que tenho medo de sonhar
é o erro quase certo
que sempre finge que está perto
quando certo mesmo é pensar
que por mais que a gente corra
se quebre, escorregue e morra
ele nunca vai chegar.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Olhares noturnos

te olho
e teus olhos
não me olham
de volta.
dão voltas
em torno
de si
como se
nunca fossem
voltar
ao normal.

olhos castigados
de café com cansaço
que não sabem onde ir
que se perdem
e então voltam
para dentro de si.
é o sono.
dorme, menina
dorme que hoje o medo
dormiu sozinho
em segredo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Amor platônico

eu não me canso
de todo dia
vir para o baile
te observar.
suas pernas longas
de passos certos
que não se cansam
de passear
por olhos grandes
sempre atentos
ao dois pra lá
e dois pra cá.
então respiro
tomo coragem
e com vontade
de não errar
suspiro e digo,
te olhando fundo:
...
não digo nada.
eu fico mudo.

sábado, 17 de abril de 2010

a poesia escorre
das mãos que nunca souberam
segurar
nem mesmo um copo de chá.
a poesia em vão
que só sabe escorregar
e pinga no chão.

vejo tudo
com olhos cansados
e já nada faço.
poesias sujas não consolam
meu coração machucado.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Vida de dona de casa

os olhos perdidos
viajam
pela fresta aberta
da janela da cozinha
um pássaro corta o céu
rumo a lugar nenhum
em busca de companhia.
a vizinha estende roupas
do marido que nunca está
em casa quando ela precisa.
e o neném grita.
pensa que deve estar
com dor de garganta
(ou grita apenas
para receber alguns mimos).
aos poucos pingos de chuva
começam a cair,
fecha os olhos
para sentir seu nariz gelado.
mas de súbito acorda:
"merda! esqueci que fiquei de babá
da farofa de banana".

terça-feira, 30 de março de 2010

a saudade corre
pelo ralo
corrói o encanamento.
droga, vou ter que chamar
o bombeiro.
outra vez.
Tarde

enquanto eu me preocupava
em plantar sonhos
era tarde
e todos dormiam.
colhi ervas daninhas
que me mastigavam
enquanto de olhos fechados
na esquina
você fingia que observava
passo a passo
todo meu drama.
vou mandar fazer
um vudu
de você
para morder a bochecha
e fazer cócegas
de madrugada.
você vai, em vão,
implorar meu perdão.
tarde demais.
eu prometo nunca mais
te deixar dormir
em paz.

quarta-feira, 24 de março de 2010

lu, isa, dora
todas juntas e sorrindo
como luisa adora.

quarta-feira, 17 de março de 2010

muda
como a menina que não fala
muda
como a planta que não nasceu
muda
como quem se transforma
muda
muda como?
não tenho mais como mudar.
mania irritante
de gostar
do que não existe
você
pensa grande
e seus sonhos
me deixam
cada dia
mais
triste.

sexta-feira, 12 de março de 2010

te peguei!
não peguei?

não peguei.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ameaças noturnas

infelizmente
a noite
sempre chega
trazendo os problemas
que o dia encobre.
à noite é sempre
calor
ou frio demais
nunca
um meio termo
e sentimos mais dor
do que de costume
sentimos medo.
a noite vai
com a ameaça
de um dia voltar
então ela chega
no meu ouvido
e sussura agudo
"não adianta
tentar fugir
que eu vou
sempre
te encontar".

a noite é
meu próprio
pesadelo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

pequena
sonhadora
do jardim
cheio
de buracos
a vida
não é poesia
e muito menos
é chão
a terra
que suja
sua mão.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Dorminhoca

te confundo
com alguém
que nunca vi
(ou já vi
e não me lembro).
é como um sonho
de repente
desconhecidos falam
comigo como se fôssemos
grandes amigos.
e como no sonho,

corro
me contorço
para matar o estranho
que sai correndo do espelho.
e então tropeço, rolando escadas abaixo.


ai!
Confusa

passo a vida toda
tentando entender
por que você
é sempre tão eu
e eu
sou sempre
tão você

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Estranho

olhando seus olhos
sua pele
seu dedo
sua cor
seu cabelo
meu deus,
como você
me dá
medo.
O que você quer de mim?

de repente me vejo
trocar palavras
esquecer nomes
e tropeçar
a cada passo.
me vejo exausta
com dedos murchos
a sentir dores
que não se sente.
te peço força
te peço calma
depois desisto
e como consolo,
devoro
tua
alma.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Princesinha

você aparece vestida
toda toda,
toda linda.

com esse sorriso no rosto
e as bochechinhas coradas
quase não se percebe
que a sua roupa está
rasgada.
Tudo de novo

observo com prazer
você se afogando
na minha piscina.
sinceramente sinto
que não tenho o que fazer
e além de tudo,
eu admito,
a imagem me fascina.
sento na borda
para podermos conversar:
"se você sair vivo,
posso te matricular na natação?"

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Talvez

talvez o vazio
de amar pela metade
me cause tanta dor
frio
ansiedade.
hoje eu te vi
e senti saudade
do que poderia ser
e que tanto
arde.

talvez
nada
nunca seja
de verdade.
Acontece

viva dia
a vida
invadida
de vida
dia bonito de ver
nasce pra te conhecer.

vi vadia
ávida
invadida
de vida
sol se confunde e se põe
antes do entardecer.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Além de tudo, ingratidão

os olhos murchos
combinam com o corpo
cansado.
hoje, mais uma vez,
não é noite para dormir
(nem para escrever poesias,
para nada).
é mais uma noite perdida
alguns sonhos a menos
e o cheiro da madrugada
por todos os cantos
me mantendo acordada.
é bom não pensar,
mas não tenho como
eu ainda te acho chato
e você dorme
profundamente
ao meu lado.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Até onde chegamos

hoje à tarde
adormeci e sonhei
com seus sapatos.
eles pisavam torto
e eram verdes
como meus olhos.
quando acordei,
estava usando
seus sapatos
- que agora
são meus também.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A chuva e o tempo

quando eu era pequena
a chuva era motivo
de diversão
- e nada além disso.
a capa de pato
que saía do armário
e a galocha rosa
da xuxa
que ficava toda suja,
preta de lama.
no recreio,
não saíamos pro pátio
lanchávamos na sala
e as meninas escandalosas
gritavam
a cada trovão.
não sei se era a única,
mas eu torcia
diariamente
para chover.

hoje choveu.
a chuva é um transtorno.
acabou com meu sapato novo.
será que vou conseguir pegar
o primeiro tempo na faculdade?
meu pior
medo do escuro
é o que chega
quando está claro.
Abacaxi

sua sombra
atravessa a estrada toda
até chegar ao meu lado.
você diz que me ama
e como prova traz de longe
um abacaxi gigante.
o sonho de viver
sem me achar louca
nasceu morto
e eu nem sequer
lembro se dormi.
me morde para ver se estou sonhando?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Filosofia sem sentido

às vezes nos resumimos
a nada
parece triste,
mas é nessas vezes
que o nada faz sentido.

fora isso,
nada
nunca
faz sentido.
Diversão barata

adoraria que você
me perguntasse algo
porque adoraria poder
não te responder.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Destroços

toda essa velharia
o móvel empoeirado
os livros em latim
e o espelho quebrado
sou eu.
e você mente.
A vida é a arte dos encontros?

eu te procuro
em lugares do mundo
que não existem
- simplesmente
para ter
o que procurar.
te procuro
porque sei
que a busca
não tem fim
e não me chama
de maluca
porque sou
feliz assim.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sufocada em meio a exclamações

palavras soltas
rimas invertidas
poesias bêbadas
são tão
divertidas!

amanhã
eu vou te
acordar
com um suco
de manga
e um gole
de chá.

amanhã
- de novo!
pra variar.
a ironia
de se viver bem
(por alguns dias)
em um mundo
onde sempre
se vive mal.
mais uma vez
carnaval.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ele não sai da janela
passa o dia todo
observando
as pessoas que somem
uma a uma
esquina afora.

uma hora ele cansa
então as pessoas sumirão
à toa,
simplesmente por sumir.

uma hora elas cansam.
Solidão

teimoso
eu quero voar
nas suas penas.
meu pássaro rei
que corta o ar
e retorna
sozinho
a seu lar
vazio.
um dia eu vou
aprender a voar
por todo esse céu
sozinha.
então você vai
certamente
suplicar
minha companhia.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

suas mãos nervosas
com unhas grandes
batem no copo
de vidro
e o barulho agudo
incomoda meu ouvido.

você tem medo da vida
vive pelos filhos
que ainda não teve
e nem sabe
se um dia vai ter.
vive pensando
em se libertar
sendo que a liberdade
está em não pensar.

seu futuro é hoje
e você não percebe
nunca vai perceber
porque prefere bater
no copo de vidro.

ainda bem que agora
eu já não escuto.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

toda a vida
a mesma espera
pelo mês
de fevereiro.

tanto sono
tanta insônia
tanto tédio
tanto medo
tanta dor
e desespero
só terminam
em fevereiro.
e se eu me afogar
no seu copo de chá
você vai sorrir
ou tentar me salvar?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

aquele olhar
"seu neném sou eu"
que só você
sabe fazer.
não há como
não sorrir e responder:
claro que sim,
meu nenem é você.
Nossa vez

mais dia,
menos dia
isso acaba
tudo acaba.
então nosso frio
vai explodir em chamas
a fome vai virar macarrão.
de repente tudo em volta
vai pedir socorro
a quem sempre negou
o pedido de perdão.

e nós vamos rir
não querendo esnobar,
mas de felicidade.
Fotografia

Mais um sorriso
Um dia colorido
E algumas coisas
Que derretem
Ao meu lado.
O que se derrete
Me fascina
Cada vez mais
(e mais e mais).

Estrelas no céu
De dia.
Dizem que só eu enxergo.
Até porque
Também há flores
E estas
Também sorriem.

Ei, tira uma foto minha?
Desconhecido

Ele não é daqui,
Mas passa todos os dias
Na mesma hora.
Cruza a rua
No mesmo pedaço
Carregando apenas
O sol em seus braços.
Um dia ele muda,
O sol se apaga
Um dia seus braços
Estarão vazios.
Então ninguém,
Ninguém mais
Vai reparar nele.

Vão achar que é daqui,
Como todos os outros.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O poeta e a vida

os dedos do poeta
antes tão precisos
já não podem sequer
escrever em linha reta.

"vida de sol
vida.
vida dis
sol
vida"

e quando termina,
as palavras estão mortas.
já não há mais vida
dissolvida
em suas linhas tortas.
Continua achando fácil?

você acha que é gente
e que sabe lidar
com as pequenas alucinações
do banheiro.
mas você nunca foi gente
e não sabe sequer
lidar com outros bichos.

esquece a banheira ligada
e se afoga.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O que há por trás
Dessas letras tão vazias?
Um infinito de coisas
Mais vazias ainda.

Segredos. Para que guardá-los?
Metrô

Aqui só há
Dois tipos de gente:
Os observadores
E os conversadores.
Não gosto de ser observada
Pelos observadores
Mas gosto de observar
Os conversadores.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Eu?

Não consigo ser eu mesma
Porque não sei quem sou.
Por que ser eu?

Se tentasse ser você
Estaria sendo eu mesma
Pois te imitar faria parte de mim.

Acho que agora estou sendo eu
Porque só eu falo assim.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Não me preocupo
Com o passado.
Uma hora ele chega.
Mas precisava estar
Sempre atrasado?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Te ponho na minha mão.
Você corre pelas esquinas
Dos meus dedos tortos
Sem se encontrar.
Parece deslumbrado,
E eu rio
Sem entender que graça
Tem a minha mão.

O que quer ouvir hoje?
Histórias de fantasma?
Mentes coloridas

Vocês ainda brincam
De colorir.
Por que colorem tanto
Se o colorido
Que disfarça a vida
Sempre fica
Preto-e-branco?
Deixei do meu lado
Um pote de nada
Para encher-se de sonhos
Durante a madrugada.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Você aqui outra vez
Brigando de ser
Formiga
Por que ser tão
Formiga?
Vou te deixar tonta
Te afastar do bando
E te jogar água
Só para ver
Se um dia deixa de ser
Formiga.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Há quatro dias não durmo
Por medo de não sonhar
Fico perdida no escuro
Forçando a visão
De figuras no ar.

Meus olhos sabem desenhar.
Tudo
Era sempre
Sonho bom
Mas nada
É sempre sonho
E nada
É sempre bom.
Tudo pouco
Nesse mundo
Mas um pouco
Tão profundo
Que nem parece pouco.
É muito?
Noite
Chuva
Vendaval.

Quem matou meu burrinho
Me ensanguentou com espinho
E foi pular carnaval?
Quando é bem pequeno
Não existe problema.
Então resolvi cortar versos,
Reduzi meu poema.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Nao manche minha poesia

Mais um dia de choro
Chora o menino
Na esquina
E chora a menina.

Choram os animais
Chora a vida
Choram os amantes
Em mais uma despedida.

Além do mais,
Chora o céu.
Mas peraí,
Cuidado.
Vai molhar meu papel.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O que somos

Você é parte de mim.
Insistente, não desgruda
E se deixo, me muda.
Me transforma em você.

Me vejo repetindo seus gestos,
Suas palavras são minhas também,
E seu jeito de sorrir.

Seus olhos olham para o meu mundo
Vêem tudo diferente
Reclamam, questionam.

E você acaba reformando coisas bobas,
Me fazendo girar no sentido errado.
Mas é escuro. Já não há mais erros.
Choro por não te ter ao meu lado.
Procure nao se perder em promessas

Escondi os nossos versos
Em um canto da estante
Pra encontrar cheios de mofo
Em um futuro distante.

Eu nao lembrarei seu nome
E já nem serei mais eu
Mas do mofo lembrarei de tudo
Que voce me prometeu.
Enquanto eu vinha daqui
Voce chegava de lá
Por isso me escondi.
Voce vai me perdoar?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Será que agora voce vai lembrar de mim?

Mínima mente
Que pensa em me esquecer
Eu saí
Comprei sorvete
Que derreteu
Ficou quente
Entao deixei pra voce.
Voce é rei de todos
Reina sem saber reinar.
Um dia te pego de jeito
E entao, com todo respeito,
Te afogo nesse mar.

Ninguém virá te salvar.
Tudo passa
Passo a passo
E eu me ponho a caminhar
Tudo leve
Num compasso
Sem parar pra respirar
Tudo indo
Tudo bem
Corrente vai,
Corrente vem.

Mas também nao exagera
Pára um pouco e me espera
Já sinto falta de ar.
Um dia o medo acaba
Com medo de nao acabar mais.
O mundo sem medo desaba
Sem o medo nem a paz
Fica em paz.

sábado, 26 de dezembro de 2009

E por que nao repetir rimas?

Misturei seu chá das quatro
Com uma pitada de poesia
Voce fez cara de nojo
Mas vai me agradecer um dia.
Da briga fez-se paz
E com medo do silencio voltar
Falou em segredo:
Traga mais folhas
Hoje vamos acampar.
Jangadeiro sem rumo
Que mal sabe caminhar
Queres grana, eu te arrumo
Mas me guia nesse mar.

Jangadeiro sem sentido
Que só rema por remar
Vou tapar o seu ouvido
Te levar pra outro lugar.

Jangadeiro sem vergonha
Que me pede pra esperar
Trago mate e pamonha
Pra jangada nao virar.

Jangadeiro sem jangada
Que nao sabe onde está
Leva sua namorada
Pras profundezas do mar.

E a pamonha? E a grana?
Vai mais um pouco de chá?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Com açúcar, com canela
Fiz meu doce malcriado
Mas deixei lá na panela
Porque prefiro salgado.
Sangue cego
Em meu suor
Carrego
Mais um dia com seu ego.

Voce abandona a marcha
Antes do apito tocar
Nao sei bem o que acha
Mas esse nao é seu lugar.

Sangue sujo
Suor
Fujo.
Sem dó.

A marcha segue distante
E ao ver seu sorriso sério
Devolvo o livro pra estante.

Um dia a marcha se perde
Entao seremos só nós.

Sangue leve
Suor de pirata
A poesia me maltrata.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sem título porque se não o título vai ficar maior que a poesia. Ops!

Meu amor é imortal
Como ele me prometeu
E enquanto estiver viva,
O chamarei de meu.

Cuidarei do meu amor
Como eu me prometi
E por onde ele for
Estará sempre aqui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Você me pediu uma casa
Te fiz de choro e poesia
Só, por favor, não me culpe
Se desabar algum dia.
Ontem eu me matei
Não no sentido literal
Nem no figurado
Não me matei de cansaço
Nem de dor
Também não morri de amor
Não me matei de inveja
Nem de medo
Não me matei de calor
Nem de sono
Não me matei de frio
Não me matei de susto
Não me matei.
Ontem eu não me matei.
O colorido que não é meu

Vocês estão sempre aqui.
E eu não entendo por que,
Mas sei que não me vêem.
E colorem.
Colorem tudo que vêem.
Sabem vocês o motivo?
Eu, mesmo sem entender,
Acho lindo.
Gosto de ver seu colorido.
Tenho vontade de colorir,
Mas não posso
Meu dever não é esse.
Eu sou dos que apagam.
Uma hora e nada ainda
Vida imunda, mão perdida
Uma hora e nada mais.
Rodo os olhos sem perceber
Que olhos não rodam
O que fazer?
Rodo sem saber rodar.
Tiro a roupa, pinto as unhas
Mudo tudo de lugar.
Lugar certo fica triste
Mas não tem como ficar:
Lugar certo não existe.
Uma hora que não passa
E não iria passar:
O relógio está parado.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Paul Frank

o tamanho da gravata
do macaco
seu chapéu, sua peruca
e sua cara de cínico.
a motocicleta,
malabarismo
a fantasia de elvis
no navio pirata.

nada disso me encanta.
seu relógio não tem graça.
Barquinho

Barquinho de madeira
Que o vento levou ao mar
Se afogou na primeira quebradeira
Porque não sabia nadar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

a depressão mora ao lado.

mas a gente não se encontra porque ela nunca sai de casa.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Fez-se noite nos olhos

E do clarão da madrugada,
Se viu todo o infinito
Fez-se fogo do atrito.

A luz cegou quem nunca
Havia enxergado de fato

É que de dia não se enxerga
A vida é cega.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ameaça

A vida se fez serena
Mais suave e mais sem graça.

Ingênua alma
Que não é pequena
Tropeça ao som
De qualquer ameaça.

As voltas ficaram lentas
E a cada movimento,
Uma nova trapaça.

O suor no rosto de quem passou frio
As noites em claro,
Caiu em desgraça.

É porque aqui,
Antes era vento.

Chagava o inverno
Matava de medo
Qualquer um desta praça.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O medo

O medo vem sem rima
Vem sem som
E o silêncio dura
Cega minha alma escura
E me arremessa ao chão.

Acaba-se em palavras dissolvidas
Em mentiras mal contadas,
Tão sérias piadas
E tristes partidas.

É medo de permanecer,
Medo de mudar
Medo profundo, que como sei,
Pode nunca terminar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sem nome por não fazer sentido algum

Voz que dura até de dia
E me acorda sem saber
Que se fosse mais sombria
Poderia me ensurdecer

Me leva para longe daqui
No grito de quem quer fugir
No sonho de quem não dorme
Na calma de quem não vive.

Vozes nunca tão macias
Que me olham,
Olhos grandes
Suaves mãos ásperas
Que já não sabem me acordar.